Conto: Desabafo de um adolescente

26-11-2012 02:41

 

Quando pequeno não sabia muito bem sobre gays, morava em uma cidadezinha no interior, foram os melhores anos de minha vida. Tudo mudou quando vim pra Belo Horizonte/MG, foram anos terríveis sem amizades e sentindo falta da minha vida pacata.
 
Com aproximadamente 12 anos, eu já estava acostumado com minha escola, trocava figurinha, jogava queimada, e odiava futebol (tá!, nunca gostei) nunca fui de ir na casa de colegas da escola e nem sei o que é dormir na casa de um amigo. Eu já achava estranho eu não jogar futebol, ficar meio diferente com os meus colegas e falando de garotas e etc.
 
Minha vida mudou completamente quando pela primeira vez, escutei alguém me chamar de Gay (Pensava eu o que era aquilo meu Deus?) dali pra frente foi bicha, viado e boiola (Um dos meus defeitos é a timidez extrema) nunca reagi a isso e sempre falava que não era e pronto.
 
Chegava em casa arrasado, com medo de ir pra escola e passar essa vergonha. Com o tempo eu vi que de certa forma, eles estavam certos porque eu percebia que achava meninos mais bonitos do que meninas.
 
Não sei se vocês lembram, mas na novela América (Rede Globo) tinha o Júnior - que era interpretado por Bruno Gagliasso - que era gaycoincidentemente também é Júnior. Me colocava no lugar dele às vezes, e morria de vergonha de ver a novela e minha mãe me comparar com ele, porque mãe sempre sabe sobre seu filho. Eu sempre fui fã de Pokémon e desenhava alguns, nisso criei uma pasta de desenhos feito por mim.
 
Foi marcado um trabalho em grupo, e marcamos de nos reunirmos na casa de meu colega e resolvi levar essa pasta pra mostrar pra ele, pois também gostava. Chegando lá ele viu a minha pasta e disse para o resto do grupo que eu tinha levado escondido na minha mochila uma G Magazine (Até então eu não sabia o que era isso, mas pelo jeito que ele falava parecia não ser boa coisa) fiquei nervoso, mostrei a pasta e esclareci aquilo.
 
Minha inocência era extrema, não sabia absolutamente nada sobre esse universo gay.
 
Eu com meus 17 anos no Ensino Médio, tinha relaxado os insultos na escola mas eu sempre percebi alguns cochichando e olhando pra mim, mas deixava pra lá. Investi seriamente em um perfil falso de safado, tarando as garotas (afinal já era adolescente e sabia que era gay) chegando a ponto de ser convidado por garotas a ir para motéis. Me assustei muito com aquilo, eu com 17 anos, nunca tinha beijado e já querendo ir pro Motel??? - Falei que não era aquele tipo de cara que só come, e que primeiro eu tinha que me apaixonar.
 
Meu pai sempre foi da moda antiga e que tentava aplicar aquilo que seu pai ensinou. Eu com os hormôniosa flor da pele, corpo mudando (era gordo e vergonhoso, isso abalava muito minha confiança) sempre pedia que meu pai colocasse Internet, porque isso me ajudaria na escola mas ele sempre disse que eu ia acabar sendo preso e que ia passar informações dele para algum vagabundo.
 
Na escola (como já estávamos avançado em termos de tecnologia) minha professora de Geografia falou que só ia passar as notas no site da escola, e que boletim não seria mais entregue em papel, também falou que os trabalhos não seriam mais em cartolina e sim em Power Point. Querendo ou não meu pai tinha que reconhecer, que a Internet iria me ajudar muito na escola.
 
Eu não acreditei, finalmente teria Internet (e nem que descobriria muitas coisas) nos primeiros dias eu realmente usei ela para estudar, depois comecei vendo homens fortes e tal's, mas nunca pelados. Quando eu descobri como apagar o histórico, comecei a acessar sites que mais me interresavam. Primeiro eu achava super excitantes esses homens fortes pelados e me masturbava vendo eles sempre. Depois de algum tempo, achei sites de vídeos gays, foi uma descoberta fantástica (eu era mesmo muito ingênuo em pensar que não existia vídeos gays na net) mas não era só pra isso que ela serviu.
 
Viciado em joguinhos no Orkut, principalmente Mini Fazenda. Com um ano de Internet tudo já era comum pra mim e foi depois de alguns dias, exatamente no meu aniversário de 18 anos, criei coragem pra falar pela primeira vez - Sou Gay, mas não tão abertamente porque iria falar pra um amigo que morava estados longe de mim (pensava eu, já que ele mora longe não tem perigo algum), senti uma adrenalina quando falei e um arrependimento passageiro porque ele me falou que também era. Fiquei feliz 'pakas' porque ser compreendido por um amigo que tem mais experiência do que eu poderia me ajudar. Assim foi 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 e no total de 8 pessoas que eu me assumi, ambas de estados diferentes.
 
Conhecia o jeito de cada um: tímidos, safados, experientes, assanhados, efeminados e novinhos. Desses 8 só mantenho contato com uns 3 e mesmo assim  em falta com esses.
 
O que me deixa mais triste, é pensar que todos q'eu me assumi já relataram ter pelo menos beijado um garoto. Coisa que eu não sei até hoje porque não sei o que tem de errado comigo.
 
Uma vez entrei no bate papo do UOL, mas me arrependi porque procurava apenas amigos e no meu primeiro, 'Oi' já chegaram perguntando se eu sou passivo ou ativo e quanto media meu ... Achei isso horrível, e nunca mais entrei. 
 
 com 18 anos e já vou pra 19 sou bv (boca virgem), virgem, tímido ainda, e frustrado comigo mesmo por ser desse jeito. Não tenho tanto interesse em sexo.
 
O dia mais triste da minha vida eu jamais vou esquecer, foi o dia que eu assisti Orações para Bobby. Chorei horrores, minha mãe achou havia acontecido algo grave comigo mas eu não consegui falar nada. Baixei esse filme e estava vendo no meu note. Só de ver o trailer me dá vontade de chorar. Eu sou um viciado em filmes de temática gay (não pornôs) tenho um acervo de 152 filmes no PC ( baixando um enquanto escrevo a minha vida) mas como estava dizendo, esse filme eu recomendo pra vocês verem porque é o filme que eu queria que minha família assistisse quando eu morresse porque já pensei muito em me suicidar, e deixar um bilhete falando que meu desejo fosse eles assistirem para saber + ou - o que foi minha vida.
 
Meus gostos e atitudes são bem óbvios pra minha família sacar que eu sou gay, não sou ligado em futebol, curto Lady Gaga, desfiles da Victoria's Secrets, roupas mais coloridas, minha voz nunca foi das mais grossas, nunca namorei, sempre tive tendência contraria que as outras pessoas. Eu sempre falei que eu era diferente porque eu não gosto do óbvio e sim do diferente.
 
Vejo alguns casais de adolescentes gays no meu facebook trocando mensagens de amor e carinho e isso me faz um mal, me pergunto porque eu não posso ser feliz desse jeito? Porque eu não acho uma pessoa pra me fazer feliz?
 
Sempre fui uma pessoa bem humorada e paciente com todos, eu amo fazer as pessoas rirem do que eu digo, mas eu sou feliz e brincalhão por fora e triste e solitário por dentro.
 
Faço curso de inglês uma vez por semana, e pego o mesmo ônibus toda terça-feira, vejo um garoto lindo, não másculo nem definido. Mas perfeito pra mim, a gente só troca olhares, nunca rolou um ,oi nem nada, não sei o seu nome só sei que ele estuda no mesmo local que eu só que ele estuda realmente na escola, já eu faço curso na escola. Já fui dormir pensando nele e tudo mas não tenho coragem de dar -oi pra ele porque não me acho muito bonito pra ele e recentemente essa escola esta em greve por 3 meses e meu curso acaba no próximo mês. Resultado nunca mais vou ver ele, pois meu curso vai acabar e vou voltar pra minha cidade natal. Vou ser um gay no armário como sempre fui e vou levar esse segredo comigo até quando der porque sei que lá vai ser mais difícil ainda criar coragem pra me assumir.
 
Hoje em dia  fazendo um regime rigoroso, investindo na minha imagem, tentando esquecer aquele garoto porque ele não é o primeiro e nem será o ultimo que eu vou ter essa paixão platônica. Perdi muito peso e mais vaidoso. 
 
 pegável kkkk mas a timidez e a solidão vão sempre me acompanhar. Até eu descobrir o que é o amor =/
 
Só pra terminar queria dizer que não menti em nada, e que fui além porque expus coisas bem íntimas e coisas que nunca saíram antes de mim pra ninguém.
 
Não vou deixar contatos porque não sou desses, que procuram sexo e nada mais. Isto é um desabafo e queria saber se alguém tem algo em comum com meus relatos. Espero que tenham gostado, e se você leu até o final, pode acreditar que agora vocês é mais íntimos do que minha família.